Profissão Perigo

18/11/2011 01:51
Brasil ocupa a segunda posição no ranking de jornalistas mortos no continente e o 11º lugar em todo o mundo
 
Por Fernanda Santana, Leonardo Cunha e Mauricio Kopke
 
A importância de chegar mais perto possível dos fatos faz com que o Brasil esteja entre os países com mais mortes de jornalistas, segundo levantamento feito pela ONG Comittee to Protect Journalists (CPJ), que indica o Brasil na segunda posição dos países mais perigosos da América Latina, ficando atrás apenas do México. A ANJ (Associação Nacional dos Jornais) divulgou um relatório chamado de “Relatório de Liberdade de Imprensa”, onde aponta um aumento significativo no número de assassinatos a profissionais da área ao longo dos anos.
 
Somente nos últimos 12 meses, cerca de cinco mortes registradas, apontaram fortes indícios de que havia ligação direta com as atividades profissionais. A categoria que sofre mais pressão no jornalismo é a dos cinegrafistas, pois como a maior parte da população dispõe de celulares com filmadoras, o cidadão torna-se grande concorrente, e com isso, os cinegrafistas tendem a se arriscarem mais para obterem imagens cada vez mais ousadas e inéditas.
 
Para o jornalista Claudio Tognolli, há outros dados que comprometem a imagem do Brasil no exterior: “apenas no primeiro semestre do ano passado, por exemplo, o país detinha um recorde de 398 pedidos judiciais de políticos, ajuizados no Google, para que tirassem do site de buscas links de reportagens que os investigavam”. Esse número é metade dos pedidos feitos na Líbia.
 
Para que tragédias maiores não aconteçam, é necessário que os poderes legislativos federal, estaduais e municipais aprovem leis que garantam mais segurança aos profissionais, para que estes continuem a exercer suas funções, sem se preocuparem se voltarão para casa ou não.
 
A pergunta que não quer calar: jornalista precisa morrer prestando serviço? Em todo planeta, foram registrados cerca de 883 profissionais mortos até hoje.
 
O caso mais recente:
No último dia 06 de Novembro de 2011, o repórter Gelson Domingos, da TV Bandeirantes, foi morto em uma troca de tiros entre policiais do (Batalhão de Operações Especiais) o BOPE e traficantes da favela do Antares, no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio. Gelson fazia a cobertura jornalística do tiroteio quando foi surpreendido com um tiro de fuzil no peito e faleceu antes mesmo de chegar ao hospital. Testemunhas afirmam que o Cinegrafista usava coletes a prova de balas na hora da ocorrência, mas ainda sim, o tiro foi capaz de perfurar o bloqueio e levá-lo ao óbito.
 
Outro caso recente é o do jornalista Francisco Gomes de Medeiros, jornalista da Rádio Caicó, que foi assassinado na porta de sua casa por homens armados em motocicletas. F. Gomes levou ao todo cinco tiros.  Francisco denunciou esquemas de corrupção, tráfico de drogas e crimes, além de comprovar que políticos compravam votos em troca de crack.

 

Gelson Domingo, de 46 anos, cinegrafista da Band baleado no peito enquanto cobria uma operação policial

O caso mais famoso:
No dia 02 de junho de 2002, Tim Lopes, repórter da TV Globo, foi brutalmente assassinado após ser descoberto por bandidos na favela da Vila Cruzeiro, Zona norte do Rio. Tim investigava a exploração de menores e a venda de drogas nos bailes funks da comunidade.
 
Este caso foi o de maior repercussão na mídia e alguns traficantes acabaram presos. Elias Maluco foi o principal acusado. Ele era até então o chefe da favela e um dos principais bandidos da facção Comando Vermelho. 
 
Testemunhas afirmam que antes de ter sua morte decretada, os traficantes realizaram uma espécie de julgamento para decidir como seria realizada a execução. Tim Lopes acabou tendo seu corpo queimado e esquartejado pelo bando. Hoje, o repórter é reconhecido em todo o mundo e ser de exemplo para jovens que almejam seguir a carreira de jornalismo.

 

Tim Lopes, de 51 anos, repórter da TV Globo assassinado em junho de 2002